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Na Grande Área
Armando Nogueira
Nunca me ocupo de política
e é certamente por isso que não consigo entender
jogadas como essa que afastou da presidência do Maracanã
o engenheiro Emílio Ibrahim. A gente põe-se a
pensar: o rapaz é competente, o rapaz é dedicado,
sua vida tem sido um esforço honrado e brilhante para
acompanhar o tom administrativo do Governo Carlos Lacerda: em três
anos de administração, Emílio Ibrahim
realizou no Maracanã tudo o que não souberam
realizar as gestões anteriores; em três anos, ele e
sua equipe de técnicos não se limitaram a concluir
uma obra porque, em verdade, o que foi feito em três anos
representa, de fato, o trabalho de construção de um
novo estádio; Emílio ergueu um novo Maracanã.
Diante disso, só resta
perguntar: por que, então, o Governador Rafael de Almeida
Magalhães exonerou o jovem presidente da ADEG?
Emílio Ibrahim transformou o
Maracanã em autêntica atração turística
da Guanabara. Ao mesmo tempo, com autoridade e austeridade, fez
com que o Maracanã deixasse de ser o que fora dantes - uma
repartição desmoralizada pela sucessão de negócios
escandalosos que comprometiam o poder público, afetando o
prestigio do próprio esporte. A crônica do nosso
principal estádio sempre fora, até então, matéria
de polícia: desviavam material de construção,
especulava-se, dentro da própria ADEM, com o câmbio
negro dos ingressos - quanta gente enriqueceu, criminosamente, no
mercado inescrupuloso dos bilhetes!
É possível que a
queda de Emílio Ibrahim encerre uma vitória dos políticos;
mas, acima de tudo, isto me soa como uma derrota do esporte no
confronto com os interesses subalternos que, infelizmente, muitas
vezes, deformam a vida pública.
No caso pessoal do Governador
Rafael de Almeida Magalhães, amigo de Emílio
Ibrahim, só posso exprimir-me na linguagem do futebol tão
comum a nós três: o Rafa perdeu o equilíbrio
na jogada e, infelizmente, marcou um gol contra as suas próprias
redes.
Quanto ao Emílio, não
vejo outra explicação para a sua queda:
derrubaram-no brutalmente por via de um foul sem bola.
Jornal do Brasil, de 28 de maio
de 1964.
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