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Recuperação da
Lagoa Rodrigo de Freitas
Emílio
Ibrahim
Um dos problemas desafiadores mais
recorrentes para a administração da cidade do Rio de
Janeiro é, sem dúvida, o da recuperação
sanitária da Lagoa Rodrigo de Freitas, pelas implicações
de natureza diversa que causam ao meio ambiente e à imagem
turística de um dos recantos de maior beleza paisagística
desta cidade.
A complexidade das medidas técnicas
para a realização do definitivo equacionamento e
solução do problema tem posto à prova a
inventividade e os recursos tecnológicos disponíveis,
ao longo de muitas décadas, a rigor, desde o longínquo
ano de 1854, constituindo-se num desafio ecológico de
importância técnica, histórica e política,
que os sucessivos governos têm enfrentado.
Sob um enfoque estritamente técnico,
a enorme carga de nutrientes carreados pelos esgotos sanitários
e águas pluviais, no entorno da Lagoa, deflagra um processo
acelerado que se caracteriza pelo estado de permanência das águas
com riqueza de nutrientes dissolvidos, mas deficientes em termos
de oxigenação.
Os efeitos danosos dessa situação
residem, em seus aspectos mais visíveis, ao alcance de
qualquer circunstante leigo, na periódica mortandade de
peixes, que mobiliza, num esforço redobrado e emergencial,
os órgãos governamentais voltados para o problema,
em operações indispensáveis à
regularização das condições sanitárias
daquela área recreacional e turística.
Em 1973, o Governo do Estado da
Guanabara celebrou um convênio com o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento - PNUD e com a Organização
Mundial de Saúde - OMS, para o saneamento do meio ambiente
no Estado, com aprovação do Governo Federal, no qual
estava inserido, de modo marcante, o Projeto de Recuperação
e Saneamento da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Na qualidade de Secretário
de Obras Públicas, incumbi o Instituto de Engenharia Sanitária
- IES, do Estado, sob a direção do engenheiro José
Santa Rita, de realizar o acompanhamento da execução
do projeto, cujo desenvolvimento contou com a eficiente participação
dos serviços de engenharia do Instituto de Limnologia da
Universidade de Lund, da Suécia.
As atividades nele compreendidas
contemplaram, então, o levantamento do perfil de sedimento
do fundo da Lagoa, a realização de estudos
experimentais, o mapeamento de toda a Lagoa e outros trabalhos
executados nos laboratórios do IES, com a assistência
de consultores técnicos nacionais e suecos.
A efetiva execução do
projeto foi retomada, em 1980, quando retornei à Secretaria
de Obras e formei um grupo de trabalho composto de técnicos
da CEDAE, FEEMA e SERLA, tendo sido elaborado um cronograma de
obras que abrangeu as seguintes etapas de realização
dos trabalhos:
- implantação de um
laboratório permanente, no local, a cargo da FEEMA, sob o
comando do seu presidente, o biólogo Evandro Brito, com
vistas à realização de análise e
controle das águas da Lagoa;
- neutralização da
contribuição de esgotos lançados em
diversos pontos das margens da Lagoa, com a utilização
das galerias de águas pluviais;
- recuperação das
duas comportas, de entrada e saída das águas do
mar, que há anos se encontravam abandonadas;
- dragagem do lodo ativo do fundo
da Lagoa, em diversos pontos, com lançamento na rede de
esgotos, proporcionando um melhor escoamento para o Emissário
de Ipanema, operação realizada durante as
madrugadas, em razão da baixa carga da rede;
- execução de serviços
de dragagem no canal que liga a Lagoa ao canal da Av. Visconde
de Albuquerque, com travessia sob as pistas de corridas do Jóquei
Clube, instituição que prestou uma preciosa
colaboração, realizando obras sanitárias em
sua área interna;
- permanência constante de
duas dragas, sendo uma de reserva, na Praia do Leblon, para
retirada de areia, no canal do Jardim de Alá, evitando o
seu assoreamento.
Os resultados obtidos com a execução
desse projeto foram mais eloqüentes, porque representaram o
fruto da aplicação de técnicas de engenharia,
que primaram pela simplicidade e ausência de sofisticações
tecnológicas, revelando-se bastante satisfatórios,
atingindo-se o objetivo de conseguir-se o estancamento da
mortandade de peixes, por um período de dez anos, segundo
avaliação dos técnicos componentes do aludido
Grupo de Trabalho.
Lamentavelmente, a ausência
de continuidade na manutenção programada das instalações
redundou no recrudescimento do fenômeno da mortandade dos
peixes.
Como fecho das considerações
aqui expendidas, sem maiores pretensões de qualquer
natureza, ouso sugerir a conjugação de esforços,
num somatório de ações na esteira daquele
projeto de recuperação da Lagoa, executado, em 1980,
por técnicos extremamente competentes, que souberam
respeitar a tradição de excelência técnica,
que marcou, em 1922, a implantação do atual Sistema
de Saneamento da Lagoa, sob a responsabilidade do renomado
engenheiro Saturnino de Brito, na gestão do prefeito Carlos
Sampaio.
As razões que militam em
favor dessa sugestão residem no fato histórico de
que a solução então adotada se revelou de
eficácia comprovada, capaz de, afinal, representar a
concretização, sem delongas, do velho sonho de serem
sanadas as mazelas ambientais da belíssima Lagoa Rodrigo de
Freitas.
Tribuna da Imprensa, 2003.
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