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Propriedade Rural Piloto (II)
Emílio
Ibrahim
O investimento coordenado na área
rural, como indutor da fixação do homem no campo e
fator de atração de empresas e capitais agrícolas,
terá retorno expressivo, inclusive em benefícios
sociais, e certamente em termos de investimento, em médio
prazo, significará menos do que a periódica
substituição, e reforço compulsório,
da infra-estrutura urbana, da região metropolitana,
pressionada pelo excessivo crescimento demográfico.
Não se trata de dar prevalência
ao Interior, em detrimento de investimentos obrigatórios e
inadiáveis no Rio de Janeiro. É indispensável
compatibilizar investimentos necessários, obedecendo às
prioridades de cada área própria - Interior e Grande
Rio - sem estabelecer concorrência entre essas regiões.
Sob esse aspecto, é fundamental a sensibilidade do Governo
Federal, pois o aporte de recursos, para o suporte da fusão
formulada, não está sujeito a injunções
partidárias, nem se trata de favor, mas decorre das
reformas tributárias implantadas após 1964, que
elevou a União Federal a árbitro e coordenador da
aplicação de recursos até então
gerenciados diretamente pelos Estados. Os precedentes conhecidos,
cumpre assinalar, não autorizam acreditar que tais funções
sejam desvirtuadas, e amesquinhadas, por uma visão estreita
e casuística, meramente voltada para interesses eleitorais.
Por outro lado, impõe-se a
imediata criação de incentivos fiscais para o Norte
Fluminense, à semelhança daqueles existentes no
Estado do Espírito Santo, região econômica idêntica;
ou, quando menos, a criação de mecanismos
compensadores, como é o caso da concessão de
royalties pela extração do petróleo e gás
da Bacia de Campos, que seria comercializado pela CEG,
beneficiando o próprio município de Campos e Macaé,
pela substituição do óleo combustível,
trazendo economia de divisas para o país e propiciando
maior desenvolvimento industrial para aquela região. Do
contrário seria mantida injustificada discriminação
entre áreas contíguas, determinando o empobrecimento
dos municípios vizinhos, não beneficiados por aquela
política fiscal, e que são merecedores de igual
favor e proteção federal, por estarem na mesma situação
econômica carente, que exigiu tratamento diferenciado para
ser enfrentada.
Há necessidade de o Rio de
Janeiro - Capital ultrapassar a barreira psicológica que o
separa dos municípios fluminenses - e o restringe a
ocasionais incursões às cidades turísticas
tradicionais - passando a raciocinar como um todo, e incluindo em
suas preocupações áreas praticamente
ignoradas como, entre outras, Cambuci, Sumidouro, Cantagalo,
Cordeiro, Trajano de Morais, São Sebastião do Alto e
Santa Maria Madalena, plenas de potencial e oportunidades para a
iniciativa privada. Sem dúvida, poucos se detiveram, com
olhos de ver, após 1975, perante o mapa do Rio de Janeiro,
para, pelo menos por curiosidade, procurar conhecer e reavaliar as
diversas regiões que o constituem, com suas características
e alternativas de lazer e investimentos, realizando em última
análise o ideal de integração do Estado.
Quantos, por exemplo, já visitaram, ou ouviram falar, dos
centros floricultores de Conselheiro Paulino (Friburgo) e Dona
Mariana (Sumidouro), com grande aceitação nos
mercados consumidores internacionais? Ou quantos conhecem as tradições
de Varre-Sai, que ainda guarda as marcas de grande centro
cafeeiro, e que produz excelente vinho caseiro, de uva, de laranja
e de jabuticaba, cuja festa se realiza no último domingo de
julho? Ali, a produção de café chega a alcançar
20 sacas por hectare, índice somente superado pelas terras
ricas do sul de Minas.
Um dado relevante: os pecuaristas
fluminenses estão produzindo leite em 51 municípios,
dando ao nosso Estado o primeiro lugar de produtividade, em termos
nacionais com o índice de 3,89 litros/vaca/dia. Viva!
O potencial do interior do Estado,
tal como ocorre com a Baixada Fluminense, entretanto, depende de
serem identificados gargalos e pontos de estreitamento, que muitas
vezes, apenas eles, impedem o natural desenvolvimento da região,
que evoluiria com a simples remoção desses obstáculos.
A demanda de energia elétrica no Norte Fluminense, por
exemplo, é da ordem de 90 MW, em área sacrificada
por se tratar de ponta de sistema. Reativamos as usinas de Tombos
e Comendador Venâncio, ambas paralisadas há cerca de
10 anos, com capacidade instalada de 2.800 kW. A construção
da nova usina de Tombos - passando a capacidade instalada de 2.800
kW para 12.000 kW - já projetada, e mais as usinas de
comendador Venâncio e Franca Amaral, permitirão
suprir parte significativa dessa carga, com a regulação
da tensão e o aumento da confiabilidade elétrica,
dispensando-se, em parte, os onerosos investimentos em transmissão
e distribuição, que seriam necessários para
elevar o suprimento através da interligação
da CERJ, com Furnas, em Campos. Se compararmos somente o atual
custo da demanda comprada a Furnas (Cr$ 602,00 kW), com a potencia
instalada da nova usina de Tombos (12 MW), teríamos, com a
sua entrada em operação, como menor de seus efeitos,
uma economia anual de Cr$ 70 milhões, a par da mecanização
da lavoura e da criação, naqueles municípios.
Com o aproveitamento dos recursos
hidráulicos do Norte do Estado, Rosal (Rio Itabapoana,
100.000 kW), Itaocara (Rio Paraíba, 82.000 kW), São
Fidélis (Rio Paraíba, 50.000 kW), toda a carga da
região seria plenamente atendida, por período
superior a 10 anos, se considerarmos o atual crescimento do
mercado de energia à base fixa de 8% ao ano; e
possibilitaria, assim a criação e o fortalecimento
de poderoso pólo industrial no extremo noroeste, integrado
por Natividade, Bom Jesus de Itabapoana, Laje do Muriaé,
Miracema e Santo Antonio de Pádua.
Igualmente o escoamento do cimento,
originário de Cordeiro e Cantagalo - cujas jazidas de calcário,
em Euclidelândia, podem ser exploradas por tempo indefinido,
tal a sua grandeza - merece especial atenção, pois
em 1981/1982 será dobrada a sua produção,
passando de 1.400.000 toneladas para 2.800.000 toneladas, com a
ampliação das fábricas, o que significa
colocar nas estradas do centro-norte fluminense uma carreta a cada
minuto. Isto, para citar rápidas observações
colhidas nas nossas freqüentes visitas ao interior do Estado
que nos fizeram sentir de perto os benefícios alcançados,
como decorrência das realizações, no campo da
energia elétrica, de abastecimento de água e habitações
populares.
Com a fusão dos antigos
Estados da Guanabara e Rio de Janeiro, fato irreversível, é
o momento de desenvolver-se o Interior e a Zona Rural, um dos
objetivos daquela operação institucional, e que,
portanto, e certamente, contará com o apoio do Governo
Federal. A criação de melhores condições
no campo, o fortalecimento das cidades de porte médio, com
a criação de pólos industriais, são
medidas indispensáveis para preservar o Rio de Janeiro, e a
Região Metropolitana, visando reorientar a imigração
interna, de forma racional.
Temos a plena convicção
de que o nosso Estado, se bem conduzido em sua administração,
em prazo relativamente curto, considerando-se o seu enorme
potencial, tanto do Interior como da Cidade do Rio de Janeiro,
pela sua inegável posição de centro cultural,
industrial e turístico, quer no plano nacional quer no
internacional, terá condições para disputar,
com grandes possibilidades de êxito, a liderança das
unidades da Federação.
Neste quadro maior de estratégia
e visão futura, é que se inserem os esforços
que vêm sendo desenvolvidos, voltados para o Programa da
Propriedade Rural Piloto, e a atuação das entidades
vinculadas à Secretaria de Estado de Obras e Serviços
Públicos, na área dos serviços essenciais de água,
energia elétrica, gás, casas populares e
meio-ambiente, dentro da orientação geral do atual
Governo do Estado, marcadamente municipalista.
Jornal do Brasil, 27 de julho
de 1981.
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