|
|
|
|
|
|
|
|
O Secretário de Obras
chegando à plataforma para visita às obras do
Emissário Submarino de Ipanema. |
|
|
|
Esclarecimentos do Secretário
de Obras Públicas Relativos ao Emissário Submarino
de Ipanema
Julgamos muito oportuna a
iniciativa de "O GLOBO" em solicitar o nosso depoimento
sobre o Emissário Submarino porque nos dá o ensejo
de repor nos devidos e exatos termos a versão correta do
desenvolvimento dos estudos técnicos e da execução
desse Projeto, bem como salientar o inquestionável alto
significado social e a apurada tecnologia utilizada, que
representa essa obra, efetivamente realizada durante a nossa gestão
na Secretaria de Obras Públicas do ex-Estado da Guanabara.
Referimo-nos ao sentido de
oportunidade desta entrevista, não só em face da
recente entrada em operação do Emissário, mas
em razão de, em alguns círculos estar sendo
questionada a eficácia da obra, sem que de modo categórico
e definitivo sejam prestados à opinião pública
os esclarecimentos que se fazem necessários em abono dessa
obra de inestimável benefício à saúde
da comunidade carioca.
Em primeiro lugar, cabe-nos
assinalar que, na realidade, a efetiva execução da
totalidade da obra se deu em 22 meses, de agosto de 1973 a junho
de 1975, em período que não apresentou qualquer solução
de continuidade.
Numa visão retrospectiva dos
fatos, lembramos que, ao assumir, em 1972, a Secretaria de Obras Públicas,
encontramos as obras do Emissário paralisadas, com projeto
e técnica de construção inadequados às
condições locais e um desempenho simplesmente caótico
da firma empreiteira Constran, o que pudemos sem grande esforço
constatar em nossa primeira visita ao Canteiro de Obras, pois dos
4.350 metros de tubulões a serem assentados, apenas 170
metros estavam concluídos, após decorridos 3 anos da
celebração do contrato pelo Estado.
O caráter litigioso que
envolveu a rescisão contratual com a empreiteira, que não
dispunha de experiência e know-how específicos para a
realização de uma obra com as características
técnicas e a complexidade de execução do
Emissário, dificultou de muito a retomada dos trabalhos,
adiando, em detrimento dos interesses da população
carioca, a abertura de nova concorrência pública.
Os resultados desta conduziram à
adjudicação das obras a um consórcio
franco-brasileiro, cuja firma estrangeira, a SPIE - Batignolles,
desfruta de grande renome internacional e registra ampla experiência
em trabalhos similares.
Cedo chegou-se à conclusão
de que se impunha, por absoluta inviabilidade técnica, o
abandono do pouco que fora executado pela firma inadimplente.
Seguiram-se os naturais, mas
laboriosos trâmites de importação da
plataforma de lançamento dos tubos e a instalação
em pleno Aterro do Flamengo de uma fábrica de tubulões
de Concreto Protendido, de até 50 metros de comprimento,
dez vezes maiores que os do projeto primitivo, o que caracterizou
a obra como mundialmente inédita.
Os recursos que na estimativa
original representavam a receita orçamentária anual
do antigo Departamento de Esgotos Sanitários, passaram a
ser negociados pela Secretaria de Obras em conjunto com os órgãos
financeiros do Estado junto ao Banco Nacional da Habitação
em favor da nova empresa que criamos, a ESAG, na época em
fase de implantação.
As dificuldades de natureza técnica
que se antepuseram à realização das obras,
entre elas as condições adversas em vários
períodos apresentadas pelas marés e pelo subsolo,
foram sistemática e decididamente superadas, de modo que o
cronograma de execução sofreu uma única
extensão do prazo contratual, que se venceu em junho do
corrente ano, com o Emissário Submarino inteiramente concluído
e em condições de operação normal.
Os resultados de que temos notícia
do seu funcionamento num período de 30 dias são de
que nenhuma anormalidade ou deficiência há a
registrar, de modo que é deveras estranho que, sem base técnica
ou científica se oponham restrições à
validade e ao desempenho operacional de uma obra que teve o seu
projeto calcado nos mais minudentes e cuidadosos estudos e
pesquisas realizadas por técnicos de reputação
internacional, como o ilustre Almirante Paulo de Castro Moreira da
Silva, presidente da Fundação dos Estudos do Mar,
que empreendeu experiência por ele próprio reputada
rara, senão inédita no Mundo, divulgada e aprovada
no 2º Congresso Internacional de Poluição, em
Londres e no Congresso Latino-Americano, de Bogotá.
Os dados definidores do Projeto,
notadamente os que determinaram a distância mínima de
lançamento do esgoto no mar, extraídos de experiências
e observações realizadas pelo Estado, sob a orientação
daquela Fundação, foram obtidos a partir de técnica
consagrada pelos meios científicos mundiais na fixação
do índice denominado T-90, que representa o tempo em que o
mar, mediante sua ação diluidora e bactericida,
conjugada com a atuação de dispersores e a técnica
de lançamento do esgoto em profundidade, reduz de 90% o
teor de colibacilos, aferidor do grau bacteriológico e de
poluição do esgoto lançado.
Procedeu-se também à
determinação dos coeficientes de difusão física
obtidos da operação de seguimentos do esgoto lançado
do Vidigal, local em que se reproduzem as condições
mais desfavoráveis, para o estudo, pois que há cerca
de 30 anos ali se realiza o lançamento de esgotos in
natura, fez-se a observação de como e quando se
processa a convergência das correntes marítimas para
as praias, e promoveram-se experiências de lançamento
de cartões-de-deriva, medições de intensidade
dos ventos, através de anemógrafo operando no
Arpoador e até a instalação de um posto de
observação equipado de sextante, em hotel da orla
marítima.
Resultou então um trabalho
científico consagrado, de pesquisa e de estudos sérios,
reputado pelos especialistas como jamais realizado em condições
semelhantes, em todo o Mundo.
É evidente que, como todo
trabalho de Engenharia, a solução para o Emissário
teria que atender ao binômio clássico - técnica
e economia - de modo que se buscou, sem o comprometimento de sua
qualidade e resguardados os coeficientes de segurança de
seu normal desempenho, atender a componente importante
representada pela economia de custos da obra, pois do contrário,
bastaria que fosse determinado o prolongamento do Emissário
Submarino quilômetros e quilômetros mar afora.
Outro ponto que desejamos enfatizar
é que o Projeto não descurou o efeito redutor que as
gorduras oferecem à benéfica ação
dispersiva do mar, nem minimizou as possibilidades de carreamento
para as praias de elementos sólidos ainda que inócuos
menos prontamente suscetíveis de degradação
ou biodegradação, tanto assim que contemplou a
instalação de uma estação de
condicionamento prévio a ser montada no Cantagalo.
De todos os estudos procedidos
ficou patente que, nas condições e com os cuidados técnicos
com que a obra foi projetada e executada, está assegurada a
ausência de poluição das praias cariocas da
Zona Sul.
Dos trabalhos de pesquisa oceanográfica
realizados recebemos relato verbal do Almirante Paulo Moreira,
cuja convicção nos excelentes resultados obtidos em
seus estudos, que serviram à elaboração do
Projeto, manifestada também à imprensa carioca foi
de molde a infundir-nos a mais irrestrita confiança na
viabilidade e eficácia da obra, que se insere entre as do
Governo passado como a de mais amplas repercussões sociais,
porque possibilitou incorporarem-se ao lazer da população
carioca, a tranqüilidade e a segurança de utilização
de águas não poluídas numa extensa faixa de
praias da Zona Sul que se estende até São Conrado,
quando, antes do Emissário, se poderia constatar o lançamento
parcial direto de esgotos na praia do Leblon em razão de
insuficiência da estação elevatória
existente naquele local.
Para atingir esse objetivo, não
cultivamos vaidades, nem medimos esforços, ao dar
continuidade e conclusão de trabalhos já iniciados e
a realização de obras complementares, como sejam: o
trecho do interceptor oceânico, de Botafogo a Copacabana,
que incluiu a escavação de dois túneis sob os
morros da Babilônia e do Pasmado, respectivamente, com 700
metros e 400 metros e o trecho da Av. Princesa Isabel, cuja área
foi posteriormente reurbanizada; o interceptor de São
Conrado e a construção de elevatória naquele
local; o trecho do interceptor nas Avenidas Delfim Moreira e
Vieira Souto, também reurbanizadas em nossa gestão e
a ampliação da elevatória André
Azevedo, em Ipanema.
Por todo o exposto, não
vemos o mínimo cabimento em considerar-se em fase de testes
e observação por tempo exageradamente prolongado, ou
mesmo indeterminado, a obra do Emissário Submarino,
produzindo-se dúvidas e inculcando-se incredulidade no seio
da opinião pública deste Estado.
Isto porque, a vingar tal
entendimento, em testes, em permanente observação e
com aceitação provisória deveriam forçosamente
estar todas as demais obras executadas neste Estado, algumas das
quais, como as de recuperação do túnel
desmoronado do lote 2 do Guandu e do Elevado Paulo de Frontin,
foram executadas durante a nossa gestão na Secretaria de
Obras Públicas.
Reportagem extraída do
livro "As Grandes Obras que Mudaram a Face do Rio". 1975
|
|
|
|
|