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CENTENÁRIO DO PADRE
MENDES, FIGURA EXPONENCIAL DO MAGISTÉRIO MINEIRO
EMÍLIO IBRAHIM(*)
Sinto-me deveras emocionado ao prestar este singelo
depoimento, ao ensejo do transcurso do centenário desse
extraordinário mestre, que representa o mais marcante símbolo
das atividades do meu querido e prestigiado Colégio
Arquidiocesano na formação da mocidade de Ouro
Preto. A celebração desse evento de extraordinária
significação para todos nós tem a organizá-la
as figuras ilustres de diversos professores, que divulgaram um
incisivo apelo para que os que privaram da amizade e do convívio
do Padre Mendes, contribuíssem com o aporte de notícias,
episódios e escritos diversos, no sentido de ser feita uma
compilação de dados para a elaboração-
de uma publicação comemorativa dessa importante efeméride.
Na realidade, as homenagens que ora presto a esse
emérito professor, de tantas gerações
mineiras, traduzem o reconhecimento inconteste do papel por ele
desempenhado na difusão de conhecimentos variados, em que o
emérito mestre pontificou, sempre com a sua comprovada
proficiência, notadamente no domínio e capacidade de
transmissão do saber dos mais intrincados meandros da língua
portuguesa. Tanto é verdade que consolidou seus sábios
ensinamentos, generosamente difundidos entre seus discípulos,
na sua obra notável "Análise Sintática",
reconhecidamente uma abordagem, em âmbito nacional, inédita
e exaustiva, desse capítulo importante do idioma pátrio,
em defesa da prevalência da norma culta sobre a avalanche do
medíocre linguajar corrente, descompromissado e atentatório
aos cânones rigorosos e escorreitos seguidos pelos nossos
escritores clássicos.
Mas, a amplitude da atuação do Pe.
Mendes não se restringiu à língua portuguesa.
Também o latim, o francês e o idioma inglês
foram por ele religiosamente cultivados e difundidos, objeto também
do seu magistério dedicado e sábio, do que nos dá
mostras a publicação da sua obra intitulada American
English.
Padre. Mendes, ao lado da sua brilhante trajetória
no campo do ensino, demonstrou também possuir excelentes
dotes de empreendedor, ao conceber, realizar e manter, na
qualidade de fundador e construtor de sua sede, o nosso querido Grêmio
Literário Tristão de Ataíde - GLTA, a que me
orgulho de pertencer, o qual nos propicia o agradável convívio,
ao abrigo das letras pátrias, numa comunhão de
sentimentos e de fervor literário, que periodicamente se
renova. A propósito, lembro-me de que uma das mais caras
emoções da minha vida foi presidir, em 1981, a reunião
do aniversário de 43 anos do nosso sodalício, com a
honrosa presença do seu patrono, o grande pensador e filósofo
brasileiro, sobre quem sentenciei, na ocasião: "a
figura invulgar de Tristão de Ataíde, que nos leva a
refletir, com um pensamento dele próprio, que bem retrata a
nossa época e que, uma vez mais, reafirma a sua larga visão
e o seu enorme talento de pensador católico: diz-nos,
assim, o grande mestre: "Estamos no crepúsculo
de uma era e na aurora da outra (...)A ciência não
suplantou a fé, eis o balanço que o século XX
nos apresenta, mas a fé pode vir a suplantar a ciência,
no decurso do próximo século. A expressão
concreta da ciência é o domínio da razão,
como a expressão concreta da fé é o domínio
do coração. "E só da união entre
a razão e o coração é que pode
resultar o verdadeiro respeito à personalidade humana."
Pois bem, a grande lição que nos
deixou o nosso querido Padre Mendes foi exatamente esta simbiose
entre a razão e o coração, entre o saber e os
sentimentos, que ele cultivava com amor e com ardor inexcedíveis,
não sobrepondo a sua erudição a uma das mais
caras razões do coração, esse microcosmo de
emoções, ao qual o festejado filósofo francês
Blaise Pascal se referia como um órgão que "tem
razões que a própria razão desconhece". É
que Padre Mendes foi pródigo em manifestações
de solidariedade e sadia convivência com seus discípulos,
a que não esteve ausente a sua participação
ativa e sempre constante nas pelejas esportivas, não raro
por ele utilizadas para a difusão de seus conhecimentos
lingüísticos, ao corrigir, no calor das disputas, os
eventuais deslizes gramaticais de seus alunos.
Por último, devo confessar ser esta a minha
visão indelével e imorredoura desse homem de Deus,
que marcou sua vida com uma trajetória voltada para a
felicidade do próximo e para a formação
cultural e religiosa de tantas gerações de nosso país,
memória que, indubitavelmente, permanecerá viva,
anos afora, como incentivo à prática do bem e à
aquisição de conhecimentos por parte de nossa
juventude.
(*) Engenheiro, sócio honorário do
GLTA, membro da Academia Marianense de Letras e ex-Secretário
de Obras e Serviços Públicos dos Estados da
Guanabara e do Rio de Janeiro
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