|
|
|
|
João Carlos Vital
Lições de
Grandeza
Emílio
Ibrahim
"Uns já
nascem grandes, outros a grandeza realizam
e a alguns a grandeza se oferece" ·
(Shakespeare)
João Carlos Vital foi um
homem privilegiado: já nasceu grande, mas também
realizou a grandeza e pode oferecer profundas lições
de grandeza aos seus semelhantes.
Como traços fundamentais de
sua forte personalidade, poderíamos citar a inteligência,
a honradez, o otimismo, a coragem, a bondade, a temperança,
sempre conjugando passado, presente e futuro, com o desassombro
dos que trazem em si a força do ideal, da fé e das
profundas convicções.
Uma vida honrada e profícua,
caracterizada por marcantes realizações, que se
creditam à sua excepcional atuação, como
cidadão e como homem público; uma brilhante folha de
serviços prestados à nossa cidade, ao nosso Estado,
ao nosso País, seja no campo da Engenharia, seja no da
Previdência Social, seja no da Administração,
seja no da Cultura.
Tantas foram essas realizações,
sobretudo na área social e na Administração,
que fica até difícil enumerar as mais importantes, já
que importantes e significativas todas o foram.
Antes de ser prefeito do Rio de
Janeiro, foi ele o responsável pelos estudos que
resultariam na criação do Instituto de Aposentadoria
e Pensões dos Industriários (IAPI); organizador e
Presidente do IRB - Instituto de Resseguros do Brasil - verdadeiro
modelo de instituição, no gênero, foi
designado pelo então Presidente Getulio Vargas, em 1938,
para criar o Instituto de Serviços Sociais do Brasil.
Porque ligada diretamente a nós,
queremos destacar, com maior ênfase, a sua passagem pela
antiga Prefeitura do Distrito Federal.
O Prefeito João Carlos
Vital, com todo o seu saber, experiência e probidade, deu um
sentido novo, verdadeiramente revolucionário, aos velhos métodos
de administrar, com especial relevo nas atividades de
planejamento, que soube desenvolver, pela primeira vez no Rio de
Janeiro, na forma de Plano Integrado. Só isto bastaria para
marcar, como de fato marcou, a sua administração.
Outro aspecto que revelou, naquela mesma oportunidade, a larga visão
do administrador eficaz foi a escolha do seu secretariado, que
soube fazer em nível de verdadeiro Ministério, tendo
à frente a figura desse extraordinário talento e
homem público, o nosso saudoso e estimado amigo, Joel
Ruthenio Carvalho de Paiva, seu colaborador mais direto, na
qualidade de Secretário do Prefeito.
Lembramo-nos de que, ainda
estudante de Engenharia, dando início à nossa vida pública,
acompanhamos, de perto, na qualidade de auxiliar de seu Gabinete,
quando Prefeito, a elaboração do famoso Projeto
1.000, de sua inspiração, projeto que, se posto em
execução, a partir de 1951, quando foi apresentado,
teria hoje resolvido os graves problemas que o Rio já
enfrentava, muitos dos quais ainda enfrenta.
O Projeto 1.000, o primeiro Plano
Integrado de Governo no antigo Distrito Federal, previa a execução
das seguintes obras e medidas para a Cidade do Rio de Janeiro:
construção do Metropolitano; construção
da Adutora do Guandu; desmonte do Morro de Santo Antonio; construção
das Avenidas Radial Oeste, Perimetral e Norte-Sul; abertura dos Túneis
Rebouças e Uruguai-Gávea; implantação
dos serviços de Trolley-Bus; conclusão das Avenidas
Brasil e Bandeiras e duplicação da Avenida Grajaú-Jacarepaguá;
construção de 160 escolas primárias; construção
de armazéns frigoríficos, silos, câmaras de
expurgo, entrepostos em mercados de gêneros alimentícios;
execução de serviços para resolver o problema
das enchentes; construção de hospitais-sanatórios,
com capacidade para 2 mil leitos, e construção do
Palácio da Municipalidade.
Muitas dessas obras não
foram realizadas e as que o foram, como a Adutora do Guandu e o Túnel
Rebouças, tiveram sua conclusão efetivada 14 anos após,
sendo que o Metrô teve sua construção concluída
mais tarde e, assim mesmo, parcialmente, em relação
ao projeto inicial.
O fato de, por motivos políticos,
o Projeto 1.000 não ter sido concretizado em lei, constitui
para nós o maior erro até hoje cometido na história
da administração do Rio de Janeiro. Foi uma visão
do futuro comprometida pelas incompreensões da época.
Mas a figura do Prefeito João
Carlos Vital, esta continua presente na lembrança de todos
os que, como nós, tiveram o privilégio e a honra de
conhecê-lo, de admirá-lo e tê-lo como exemplo,
para levar avante as missões e os encargos que o destino
nos tem reservado.
Desse exemplo temos procurado
seguir a filosofia que sempre inspirou as suas atuações,
levando em conta que, num país como o Brasil, o Governo não
pode negligenciar suas responsabilidades no plano social, ou
subestimar, de qualquer modo, o problema dos desníveis e
das carências sociais.
Mas, o que nos impressiona na
figura desse brasileiro ilustre foi a sua visão, já
que mantemos o ponto-de-vista de que o homem que está certo
é aquele mais intimamente ligado ao futuro. Este é o
seu retrato, expresso na singeleza desta definição:
há duas fontes de alegria pura: o bem realizado e o dever
cumprido.
João Carlos Vital realizou o
bem e bem cumpriu a sua missão na Terra, deixando-nos, como
precioso legado, uma grande lição de vida, que
somente aqueles que sempre buscam a perfeição podem
oferecer. O Secretário Emílio Ibrahim, recebe os
ex-Prefeitos engenheiros João Carlos Vital e Alim Pedro
O Secretário
Emílio Ibrahim, recebe os ex-Prefeitos engenheiros João
Carlos Vital e Alim Pedro
Jornal do Brasil, de 7 de maio
de 1984.
|
|
|
|
|