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Mariana e a Estrada Real
Emílio
Ibrahim*
Registramos, com indizível
satisfação, a deflagração desse
movimento cívico de valorização e incremento
das potencialidades turísticas da região mineira dos
Inconfidentes, com extensão aos territórios do
Estado do Rio de Janeiro e, em menor escala, do Estado de São
Paulo, representado por esse projeto que se convencionou denominar
"Estrada Real", numa merecida homenagem ao caminho
percorrido, nos séculos 17 e 18, para transporte de ouro e
diamantes, de Diamantina a Paraty, na época principal porto
do litoral fluminense.
A iniciativa só deverá
granjear encômios e compromissada solidariedade dos que,
como nós, originários daquela região, estamos
acumpliciados com o dever filial de louvar essa empreitada
fascinante, reconhecendo os esforços meritórios do
jovem governador Aécio Neves, liderança inconteste
no cenário político estadual, demonstrando larga visão
administrativa, ao assumir uma parceria com a Federação
das Indústrias de Minas Gerais - FIEMG, na criação
do Instituto Estrada Real, na gestão do dinâmico
industrial Robson Braga de Andrade, projeto que recebeu o
indispensável e significativo apoio formal do operoso
Ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia.
No contexto desse projeto, Mariana
insere-se na sua condição inquestionável de
precursora da história de Minas Gerais, em seus aspectos
social, político, institucional, cultural, arquitetônico,
religioso e artístico, indubitavelmente na condição
de matriz, célula-mater da formação sócio-política
e cultural de Minas Gerais.
É por essa razão que,
com a vivência adquirida na Administração Pública,
ousamos sugerir um modelo de desenvolvimento da vocação
turística da região, que guarda, em seu bojo, um
sentido prático e uma clara indicação de que
se deve forcejar por induzir-se um vigoroso progresso para esta
importante Região Histórica dos Inconfidentes,
mormente agora com a realidade inconteste dessa iniciativa de
escol, que é a Estrada Real, a partir do somatório
dos esforços de todas as municipalidades, que se agregam no
entorno destes recantos históricos das Minas Gerais, com o
indispensável apoio dos governos estadual e federal e da
iniciativa privada.
Assim é que, como já
nos pronunciamos em outra oportunidade: "visualizamos a
viabilidade de criação de um grande pólo turístico,
envolvendo Mariana e Ouro Preto, ancorado, notadamente, na
infra-estrutura existente e na que se implante, mediante um
projeto ousado de desenvolvimento, que venha a contribuir para a
melhoria das condições de oferta de programas
culturais, educativos, de pesquisa e de lazer, a que não
ficaria alheio o incentivo à gastronomia regional, num
apelo à avidez do saber e ao desfrute do ócio com
dignidade dos que, nacionais ou forâneos, procurem haurir
conhecimentos e conviver com o espírito de mineiridade de
nossa gente".
Em termos práticos, a agenda
dos eventos, de natureza histórica, cultural e religiosa,
contemplaria as festividades tradicionais ligadas à
comemoração da Inconfidência Mineira, nela se
inserindo o Dia de Tiradentes, o Dia de Minas Gerais, com extensa
programação que abrangesse o período de uma
semana, e os festejos de 12 de outubro, alusivos ao aniversário
da Escola de Minas, bem como os atos litúrgicos da Semana
Santa, realizados em Mariana e em Ouro Preto. À temática
religiosa não estaria ausente a peregrinação
permanente, com roteiro bem elaborado, para a visitação
aos templos religiosos e a exposições do Museu
Arquidiocesano de Arte Sacra, do museu de Ouro Preto e à
realização de concertos do órgão Arp
Schnitger, da Catedral de Mariana, construído em 1701 e um
dos dois únicos dessa marca remanescentes no Mundo, e para
freqüência a recitais de músicas coloniais,
inserindo-se no roteiro visitas à Casa de Cultura e Cadeia,
uma das jóias do período colonial mineiro. A par
desses aspectos, há que assinalar-se a oportunidade de
resgate do predomínio do espírito de religiosidade,
exteriorizado no acompanhamento dos rituais e das pompas dos
cultos religiosos, tão presentes e marcantes no passado.
Enfatizamos também a
indispensável inclusão nos roteiros turísticos
da visita à extinta mina de ouro da Passagem, com seus 350
metros de extensão e a 120 metros de profundidade, bem como
assinalar a premente necessidade de retomo da antiga viagem turística
Mariana - Ouro Preto, com a reimplantação da ligação
férrea, ora desativada, que aproximaria ainda mais os dois
municípios.
É oportuno dar-se conta da
relevância dessa parceria entre as duas cidades, na medida
em que as eventuais divergências e conflitos naturais de
interesses menores, porventura existentes, iriam ceder a uma
conjugação sadia de propósitos comuns,
voltados para o engrandecimento e melhoria das condições
de vida das comunidades envolvidas, pela atuação de
fatores que alavancariam o progresso e o crescimento da oferta turística
da Região Histórica dos Inconfidentes. Naturalmente
que este é um projeto multidisciplinar e complexo, que
contempla a participação indistinta das duas
municipalidades, com a contribuição insubstituível
e os esforços ingentes de seus prefeitos e edis, demais
dirigentes de órgãos públicos, e a colaboração
indispensável da Arquidiocese, pioneira em nosso Estado, e
das entidades de classe da Indústria e do Comércio
da região enfocada. Os ganhos, quero crer, seriam
generalizados e a repercussão extra-fronteiras do Estado
atingiria uma progressiva amplitude de alcance, situando a região
entre as de maior receptividade do mercado turístico.
Evidentemente que, nas atuais
circunstâncias, com a criação do Instituto
Estrada Real, na expressão feliz do governador Aécio
Neves: "Um projeto à altura da grandeza de Minas e
capaz de mobilizar não só a imaginação
e o renovado interesse dos turistas em todos os continentes, mas
que representa também um poderoso estímulo à
criatividade dos empresários do setor, nacionais e
estrangeiros", o projeto turístico aqui exposto terá
que se ajustar, inelutavelmente, no contexto mais amplo e nos
objetivos mais ambiciosos do empreendimento patrocinado pela
FIEMG.
Para nós, marianenses, o
fundamental é que Mariana não seja jungida, o que
seguramente não ocorrerá, a uma condição
subalterna de mera espectadora passiva dos eventos que se
desenrolem no âmbito da Estrada Real, mas que represente um
pólo indutor de atividades culturais e artísticas,
com fulcro no turismo, mercê de suas potencialidades que, se
exploradas adequadamente, compartilhando com as demais cidades que
compõem a Região Histórica dos Inconfidentes,
renderão, indubitavelmente, os benefícios que se
espera venham a ser alcançados pelo nobre e generoso povo
das Alterosas.
* Engenheiro, membro da Academia
Marianense de Letras e Sócio Honorário do Grêmio
Literário Tristão de Ataíde, de Ouro Preto.
Artigo publicado na Tribuna da
Imprensa, em março de 2004, e Revista Justiça e
Cidadania do Rio de Janeiro.
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