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Desenvolvimento Urbano Natural
do Rio de Janeiro
Emílio
Ibrahim
O diagnóstico dos problemas
urbanos da cidade do Rio de Janeiro nasceu a partir da compreensão
da sua evolução histórica. A ocupação
de seu território, que se iniciara nas colinas do Castelo
de São Bento, a de Santo Antônio e o Morro da Conceição,
marcando a sua primeira configuração urbana, ganhou
seqüência com a conquista civilizada dos vales e a
escalada de pequenas encostas, vencendo a poder dos meios de
penetração então disponíveis, os
limites das barreiras que a natureza caprichosamente interpôs
à ânsia de fácil e desmedida expansão.
A topografia ajudava a cidade a se constituir, neste inicio de
vida urbana, numa estrutura una e solidamente harmônica.
O espraiamento pela área
suburbana, que marcava o inicio de seu processo de industrialização
se fez acompanhar da penetração através da
abertura de túneis nos grandes maciços montanhosos,
associando-se, desta forma, à ocupação
territorial, a conquista de outros recursos de lazer, com o acesso
às praias da Zona Sul, que originou a grande expansão
imobiliária.
Em decorrência da explosão
demográfica, a cidade passaria a sofrer um grande sacrifício
em seu equilíbrio urbano. Os serviços de
infra-estrutura já não mais atendiam à
demanda de uma população que crescia rapidamente. Os
problemas de nossa cidade estavam a exigir dos responsáveis
pela sua administração, não apenas recursos,
mas também visão e coragem para a retomada de
projetos de execução a médio e longo prazos,
despojados de sentido imediatista e improvisador, com a amplitude
suficiente para permitir que o Rio recuperasse a sua unidade urbanística.
Hoje, o desenvolvimento urbano do
Rio está voltado prioritariamente para a expansão da
região a partir da Barra da Tijuca. Daí terem sido
extremamente promissoras e alentadoras as cogitadas prioridades
conferidas aos projetos de duplicação da
Auto-Estrada Lagoa-Barra, e de implantação do metrô,
ressaltando-lhes a imprensa, em editoriais, a inadiabilidade de
suas construções, notadamente em face da realização
dos Jogos Pan-Americanos de 2007, que o Rio sediará. Mas, a
proximidade de realização desse magno evento
poliesportivo, de repercussão mundial exige que se busque
assegurar a mais efetiva disponibilidade de recursos de transporte
que, no caso da rodovia, é solução mais
expedita.
Tenho a convicção
plena de que a viabilidade da realização desse
empreendimento está, umbilicalmente, ligada a uma decidida
e efetiva conjugação de esforços e de
recursos dos entes públicos que detêm a titularidade
da responsabilidade pela execução das obras, ou
seja, o Estado e a Prefeitura do Rio de Janeiro, de vez que a
implantação do projeto de instalação
do Metrô operará uma transformação na
destinação do uso da Av. Niemeyer, com seu novo
projeto, de modo a torná-la uma via de quase exclusivo
interesse turístico, para descortino das belezas da
paisagem da orla marítima, realçando a natural vocação
turística da cidade do Rio de Janeiro.
Na realidade, é importante
que seja enfatizado o valor do projeto Lagoa - Barra, não
somente em razão da contribuição efetiva para
a melhoria das condições de absorção
do acúmulo de tráfego que demanda a Barra, mas também
no atendimento da altamente vocacionada expansão turística
daquela região, sem dúvida, atualmente, a maior
responsável pelo crescimento e progresso do nosso Rio de
Janeiro. O projeto irá minimizar os problemas de
congestionamento quase permanente do tráfego, até a
adoção de uma solução de transporte de
massa, o metrô, que inapelavelmente terá que ter sua
rede ampliada para atingir a Barra da Tijuca e que deverá
merecer atendimento do governo do Estado.
Para o desenvolvimento do Rio, no
entanto, não se restringem a esses aspectos as virtudes de
implantação desses projetos, porque eles podem estar
inseridos numa visão mais ampla e ambiciosa de melhoria de
uma área muito mais extensa, dando validade ao velho sonho
do ex-Governador Carlos Lacerda que, mirando-se no trabalho do
urbanista Doxiadis para o litoral da Espanha, visualizou a expansão
turística de uma região que extrapola as lindes do
Estado e se espraia pelo litoral de São Paulo, pela rodovia
Rio-Santos, desfrutando de igual benefício a Restinga da
Marambaia, a Baía de Sepetiba, a Baía de Angra dos
Reis, Paratí, Ilha Bela, São Sebastião,
Ubatuba e a Baía de Santos, inclusive, com a adoção
indispensável e tempestiva de um projeto de preservação
das condições naturais do meio ambiente. Para tanto,
deveria, também, ser elaborado um plano integrado de
desenvolvimento sócio-econômico, com delimitação
de áreas de turismo e de recreio, de indústria e de
habitação. Sem dúvida que teríamos
nessa faixa litorânea brasileira um dos centros mundiais de
inigualável apelo turístico, mercê também
da sua deslumbrante visão paisagística.
A eventual não realização
desses projetos faria renascer em mim o desencanto de uma experiência
frustrante suportada, quando nos primórdios de minha vida pública,
vi desfeita a oportunidade de melhorias significativas para a
cidade do Rio de Janeiro, algumas só concretizadas após
décadas, com evidente prejuízo para a qualidade de
vida de sua população. Refiro-me ao Projeto 1.000,
elaborado pelo saudoso Prefeito João Carlos Vital, na
realidade, o primeiro Plano Integrado de Governo do antigo
Distrito Federal, que, se posto em execução, a
partir de 1951, teria proporcionado a realização de
um conjunto de obras importantes, entre outras, o Metrô, a
Adutora do Guandu e o Túnel Rebouças. A não
transformação em lei desse Plano representou, a meu
ver, um dos maiores erros cometidos na história
administrativa do Rio de Janeiro, resultado de uma visão
equivocada do futuro de nossa cidade, fruto de incompreensões
políticas daquela época. Jornal
Tribuna de Imprensa, 26 de
agosto de 2003.
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