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De Volta para o Futuro
Emílio
Ibrahim
A retomada do diálogo entre
a União Federal e o Estado do Rio de Janeiro deve ser
analisada como resultado de uma política inovadora e
definitiva, voltada para as obras de interesse público
independente de governantes, e não apenas como causa final
de translações partidárias eventualmente
fadadas a esgotar-se em si mesmas.
A forte repercussão da
atitude fica por conta do inadmissível isolamento do Rio de
Janeiro em relação ao Poder Central, por mais de uma
década, quando surpreendente e inusitada deveria ser a
falta de entendimento entre as autoridades públicas
conscientes, e não o contrário.
Esse episódio certamente
levou a considerações exaustivas sobre as conseqüências
políticas das conversações entre a União
Federal e o Estado para a realização de obras públicas
de interesse comum, minimizando-se, porém, considerações
sobre as relevantes conseqüências administrativas e
pedagógicas dessa disposição do maior alcance
social e econômico.
O sistema viário policrômico,
constituído pela malha de auto-estradas e vias expressas
projetada pela competente equipe técnica do antigo
Departamento de Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro, tem a
importante característica de tornar exclusiva ao tráfego
doméstico a sua estrutura, hoje assoberbada pelo encargo de
também servir de entrada e saída aos tráfegos
estadual e interestadual, e de via de acesso aos tráfegos
nacional e internacional.
O incremento desmesurado da população,
envolvendo o Rio de Janeiro e cidades circunvizinhas integradas na
mesma comunidade sócio-econômica, gerou uma
exarcebada demanda reprimida de serviços públicos, a
começar por exigir profunda reformulação na
infra-estrutura viária, visando a adequá-la à
nova realidade, já reconhecida bem antes desta década
e, agora, naturalmente agravada.
Por duas vezes à frente da
Secretaria de Obras do Estado, conseguimos viabilizar a demarragem
de obras, e a concretização de outras inacabadas,
que se inserem no projeto das Linhas Policrômicas. Na Linha
Verde (Tijuca - Pres. Dutra) - que é uma importante via
expressa praticamente paralela à Av. Brasil, de sentido
mais interiorano - com a construção do Túnel
Noel Rosa, em pistas superpostas, além do viaduto sobre a
Rua Embaú, que atinge o km 2 da Rio - São Paulo.
Na Linha Vermelha, executamos as
melhorias de ampliação para duas faixas de tráfego
do túnel Rebouças, a recuperação total
do elevado Paulo de Frontin e a construção do
viaduto, em estrutura metálica, que atravessa o trevo das
Forças Armadas, desenvolvendo-se sobre a Rua Figueira de
Mello até o Campo de São Cristóvão.
Esse último eixo viário,
designado como Linha Vermelha, desafogará sensivelmente a
circulação local em áreas de população
de baixa renda, revitalizando bairros da Zona Norte, permitindo,
ao mesmo tempo, que o acesso da Zona Sul à Ilha do
Governador, à Cidade Universitária e ao Aeroporto
Internacional do Rio de Janeiro se processe em apenas 15 minutos,
com resultados altamente positivos para a cidade e o Estado.
É oportunidade para lembrar
a importância do projeto da Linha Amarela, relativo à
ligação da Av. Sernambetiba, na Barra da Tijuca, às
rodovias Washington Luiz e Presidente Dutra, cuja obra de maior
envergadura será a construção do Túnel
da Covanca, trazendo como reflexo mais significativo o desvio do já
excessivo volume de tráfego do túnel Rebouças,
projeto esse já em início de execução
pela Prefeitura, sob aplausos gerais do povo carioca.
É meritório,
portanto, e inadiável, que se empreenda a continuidade
desses esforços já despendidos e que se estão
distanciando no tempo, tornando cada vez mais dramático e
oneroso o saturamento do fluxo rodoviário urbano do Rio,
mesmo porque esses projetos, de obviedade tão ululante,
prescindiriam de estudos de viabilidade ou até mesmo da
estimativa de benefícios/custos para justificar técnica
e economicamente a sua realização.
Recolhemos de nossa experiência
na solução construtiva da Avenida Perimetral e do
elevado sobre a Rua Figueira de Mello os bons resultados obtidos -
graças à participação inestimável
da Companhia Siderúrgica Nacional - com a pioneira utilização
de estruturas metálicas, que conferem maior grau de
esbeltez a obras dessa natureza e proporcionam leveza plástica
e menor comprometimento do espaço físico em ruas
atingidas pelo seu traçado.
A integração de alto
nível entre os governos federal e estadual, além
desses resultados objetivos, preserva e consagra didaticamente o
princípio da continuidade da obra pública, não
em consideração ao governo ou à autoridade
que a tenha iniciado ou projetado, mas em função do
efetivo interesse público e social determinante. É
meio seguro para não se comprometer o futuro inserido no
presente.
Por tudo isto, e abstraindo-se
aspectos políticos nem por isso menos relevantes,
congratulemo-nos pelo sinal verde dado à retomada da Linha
Vermelha, na expectativa de seu absoluto êxito, não só
como obra viária, mas como abertura para o implemento de
outros projetos de semelhante importância e proveito, em
face dos valiosos precedentes e lições que institui.
Jornal do Brasil, em 1984.
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