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Propriedade Rural Piloto (I)
Emílio
Ibrahim
O crescimento demográfico da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro registra taxas da
ordem de 3% ao ano, o que equivale a dizer que devem ser
acomodados, anualmente, cerca de 300 mil habitantes nessa área.
Ou seja, a cada ano, há necessidade de prover equipamento
de infra-estrutura urbana, lazer, educação e mercado
de trabalho para uma população adicional superior à
de Florianópolis-SC ou Vitória-ES, em progressão
geométrica.
A população da Cidade
do Rio de Janeiro cresceu, entre 1960 e 1970, a uma taxa de 2,54%
ao ano, correspondendo 33,82% ao fator vegetativo, e 66,18% ao
fator migratório. Observe-se, entretanto, por ser
relevante, que o Estado que mais contribuiu para o fluxo migratório,
nesse período foi o próprio Rio de Janeiro, com um
percentual de 29,02% (dados IBGE). Atualmente, os municípios
da Baixada Fluminense absorvem contingente demográfico
superior ao absorvido em conjunto por São Paulo e a região
do ABC.
Esses dados sugerem a necessidade
urgente de uma política mais agressiva, voltada para o
fortalecimento das cidades de porte médio do Estado do Rio
de Janeiro, e um esforço maior, para melhorar e dignificar
as condições de vida do homem do interior e do
trabalhador do campo.
É nessa linha que se
estrutura o programa denominado Propriedade Rural Piloto, como
fator de fixação das populações
interioranas, para as quais os deslocamentos, em direção
aos grandes centros, podem constituir-se em opção
individual, mas não devem, jamais, transformar-se em ilusória
imposição de sobrevivência.
Por meio da Companhia de
Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro - CERJ, da Compa-nhia
Estadual de Águas e Esgotos - CEDAE, da Companhia Estadual
de Gás do Rio de Janeiro - CEG, da Companhia Estadual de
Habitação do Rio de Janeiro - CEHAB-RJ, e da Fundação
Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA, o Governo Chagas
Freitas, por intermédio da Secretaria de Estado de Obras e
Serviços Públicos, elaborou esse programa, com a
atuação integrada dessas Empresas, propiciando a
baixo custo a oferta de serviços essenciais, tais como
eletrificação rural, abastecimento d'água e
irrigação, energia calorífica
(biodigestores), e casas populares, num planejamento abrangente,
que prevê assistência médica e social, educação
e lazer. A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento,
por intermédio da Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro - EMATER,
encarregou-se de projetar e implementar assistência técnica
e demais atividades relacionadas com aspectos propriamente rurais
do empreendimento, orientadas para a melhoria da qualidade de vida
dos trabalhadores e o aumento da produtividade agropecuária.
Esse programa - inspirado em experiência
semelhante na França - está sendo implantado
inicialmente em Colônia, 4º Distrito do Município
de São Fidélis, onde têm surgido novas áreas
de plantio de café. O desenvolvimento e prestígio
dessa proposição e a sua extensão a outras áreas
do Estado, poderão abrir toda uma nova perspectiva para a
recuperação do campo, reduzindo o fluxo migratório
dirigido à Região Metropolitana.
Entretanto, isoladamente, essa
iniciativa pioneira pouco poderá fazer, caso não
seja acompanhada de um elenco de providências, voltadas para
desafogar os diversos estrangulamentos que inviabilizam a plena
realização da vocação rurícola
do Estado e estiolam o seu imenso potencial, até agora
apenas entrevisto.
O Rio de Janeiro, evidentemente,
ressente-se da falta de um Interior economicamente forte, e que
propiciaria crescente relação de troca com a
Capital, gerando efeito multiplicador de investi-mentos e riqueza,
à semelhança do que ocorre em São Paulo. O
turismo internacional e interno, que favorece a região, em
que pese suas qualidades positivas e cosmopolitismo resultante, não
é justificativa suficiente para descurar-se de obras e
realizações, que antes de dependerem de recursos
financeiros exigem do administrador presença, interesse e
pleno conhecimento dos problemas que afligem as populações
locais. Valioso papel é reservado, especificamente, neste
caso, às lideranças políticas, capazes de
pronta-mente identificar áreas criticas de atuação,
que de uma perspectiva puramente metropolitana pareceriam de menor
relevância.
Em artigo intitulado "Baixada
Fluminense - Novo Centro Industrial Metropolitano", publicado
no JORNAL DO BRASIL, de 20 de agosto de 1980, tive-mos
oportunidade de antecipar os efeitos indutores da instalação
de serviços essenciais e de Infra-estrutura:
"Estamos certos que esse
conjunto de ações terá como conseqüência
inevitável o surgimento na Baixada Fluminense de um Novo
Centro Industrial Metropolitano, cuja sigla N.C.I.M., por
curiosidade e justa coincidência, é formada pelas
iniciais de Nilópolis, Caxias, Iguaçu e Meriti,
principais cidades que integram o futuro e poderoso quadrilátero
fabril.
Aberto o caminho, com o
implemento da infra-estrutura básica, certamente a
Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e
Turismo, com o seu dinamismo, terá oportunidade de divulgar
a situação privilegiada oferecida a iniciativas e
capitais produtivos, e assim, em pouco tempo, terá condições
de atraí-los para o Novo Centro Industrial Metropolitano,
fadado a ser contraponto do ABC paulista, encontrando, finalmente,
aquelas sofridas cidades o seu verdadeiro destino de pólo
gerador de novos empregos, conforto e progresso social para a
população".
O equacionamento dos problemas da água
e da energia calorífica (gás natural de Campos), na
Baixada Fluminense, em escala industrial, ensejou várias
consultas de indústrias de porte, culminando no momento,
com a aprovação do projeto da Bayer que, além
do reflexo direto na economia estadual, com o investimento de 60
milhões de dólares, criará 300 novos
empregos, numa área carente e de tensão social crítica.
O investimento coordenado na área
rural, como indutor da fixação do homem no campo, e
fator de atração de empresas e capitais agrícolas,
terá efeitos semelhantes, e certamente, em termos de
investimentos, a médio prazo, significará menos do
que a periódica substituição e reforço
compulsório da infra-estrutura urbana da Região
Metropolitana, pressionada pelo excessivo crescimento demográfico.
Jornal do Brasil, 1981.
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