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MARIANA, O OURO E A ESTRADA
REAL
* Emílio
Ibrahim
Na data festiva de mais um aniversário
de nossa querida Mariana, retomo um tema abordado em artigos
anteriores, quando propugnei por um movimento de valorização
e desenvolvimento das potencialidades turísticas da Região
Histórica dos Inconfidentes, com fulcro na integração
de esforços das municipalidades e comunidades que a compõem,
para a realização de eventos de caráter
cultural, religioso e artístico, de forma a racionalizar a
utilização da vigorosa vocação turística
que a região apresenta, ancorada na sua tradição
histórica, nos seus tesouros de arquitetura colonial e nas
obras de arte sacra de suas igrejas de inestimável valor.
E regozijo-me por ver prestes a ser
implementada uma iniciativa que beneficiará Mariana,
representada pela reativação da ligação
ferroviária da cidade com Ouro Preto, de há muito
desativada. É que notícia auspiciosa nos dá
conta do início de realização do projeto do
Trem Turístico, concebido no Ministério do Turismo
com a ativa e indispensável participação das
respectivas Prefeituras, e que receberá o meritório
patrocínio da Companhia Vale do Rio Doce, a qual, ao lado
de suas atividades industriais desenvolvidas no município
de Mariana, ampliando a oferta de empregos e assistência médica
e educacional, já proporcionou uma série de benefícios
para a cidade, à base de convênios com instituições
locais, como o que celebrou com a Arquidiocese, para a recuperação
da Igreja do Carmo.
Por essa razão é que
devemos manifestar os nossos aplausos e apoio à luta
daquela empresa, a maior exportadora brasileira e uma das mais
punjantes produtoras de minério de ferro no Mundo, pela
manutenção de seu processo produtivo integrado, com
o controle das atividades de mineração e de logística
ferroviária, portuária e marítima, que lhe
preserve o poder de competição no mercado
internacional, num exitoso sistema que, se fracionado, resultará
em graves danos para a economia brasileira, com a quebra de sua
hegemônica posição de supridor de matéria
prima para a indústria siderúrgica mundial.
É evidente que os reflexos
de uma política de descentralização
administrativa do complexo de ferrovias e portos marítimos,
hoje sob o controle operacional da Vale, se farão sentir,
negativamente, no desempenho e nos resultados das unidades de
produção da Vale, entre as quais se situa a
localizada em nossa Mariana.
Não menos auspiciosa é
a implantação do projeto da Estrada Real, cujo
Instituto formado pelo Governo do Estado de Minas Gerais, com
parceria da iniciativa privada, sob a égide da FIEMG, e sob
os auspícios do Ministério do Turismo, com
financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, visando
ao incremento do turismo na região, planeja, com muito
acerto digno dos nossos maiores encômios, a criação
de oito pólos regionais em São João Del-Rei,
Diamantina, Serra do Cipó, Santa Bárbara, Ouro
Preto, São Lourenço, Carrancas e Juiz de Fora, como
se vê, distribuídos ao longo do percurso do antigo e
tradicional caminho do ouro.
Mariana, porém, que detém
a marca do pioneirismo na produção do ouro, objeto
da cobiça dos bandeirantes, é também o mais
autêntico repositório das tradições
históricas do passado das Alterosas, "urbs mea cellula
mater", como, emblematicamente, se acha inscrito em seu brasão,
mercê da sua condição indesmentida de primeira
Vila, abrigando a primeira Câmara e a primeira Diocese,
depositária fidelíssima dos sentimentos cristãos
mineiros e berço de civismo e de espírito libertário,
desde a jornada dos Inconfidentes, com a proeminente participação
de seu dileto filho, o poeta Cláudio Manoel da Costa,
passando pela contribuição valiosa de José
Joaquim da Rocha e João de Souza Barradas, na conquista da
Independência do Brasil, e culminando com a atividade
precursora do Abolicionismo exercida por João Severiano
Maciel da Costa, o Marquês de Queluz.
Por conta, pois, da importância
histórica da sua participação inestimável
na formação da alma e da cultura nacionais, além
dos limites do território mineiro, com a plêiade de
figuras exponenciais das artes, das letras e da religiosidade
brasileiras, Mariana merece o reconhecimento do seu relevante
papel histórico, tornando-se credora da iniciativa e
decidido empenho dos gestores do projeto da Estrada Real, no
atendimento ao apelo de seus filhos tão bem explicitados
pelo saudoso Monsenhor Vicente Dilascio ao referir que, ao lado da
criação do Dia de Minas, com a transferência
anual simbólica da Capital, "...outras efetivas
homenagens, traduzidas em obras, sejam uma justa retribuição
a Mariana, Célula Mãe de Minas."
Na esteira dessa reivindicação,
ouso sugerir que, à semelhança do que está
previsto para Diamantina, seja erguido em Mariana um monumento
histórico, que abrigue um centro cívico e cultural,
servindo de ponto de referência e fonte de informações
a turistas e à comunidade marianense. E, assim, todos nós,
filhos da terra, nos sentiremos agradecidos e recompensados.
* Engenheiro, membro da Academia
Marianense de Letras e ex Secretário de Obras e Serviços
Públicos do Estado do Rio de Janeiro.
A Semana e Ponto Final de Mariana e
o Povo de Ouro Preto, em julho de 2005.
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